segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Na África, fome segue crianças que fugiram do Zimbábue


Elas parecem crianças de rua, os olhos sempre em busca de lixo utilizável e os corpos cobertos por roupas tão sujas quanto um macacão de mecânico. Perto da meia-noite, é possível encontrar essas crianças vindas de Zimbábue dormindo em quase toda parte, na cidade de Musina, na fronteira entre seu país e a África do Sul. Uma menina de 12 anos chamada No Matter Hungwe, acocorada diante da reconfortante luz externa de uma agência de correio, diz que foi a fome que a levou a atravessar a fronteira sozinha.

O pai dela está morto, e Hungwe queria ajudar sua mãe e irmãos menores com o dinheiro que conseguisse ganhar aqui na África do Sul - mas dentro de certos limites. "Alguns homens - homens com carros - querem dormir comigo", ela diz, avaliando os méritos da idéia. "Ofereceram 100 rand" - o equivalente a US$ 10.

Com a longa sequência de crises que aflige seu país, número cada vez maior de crianças e mulheres desacompanhadas estão se unindo ao influxo de zimbabuanos que atravessam ilegalmente a fronteira, no rio Limpopo, de acordo com a polícia, funcionários de governos locais e trabalhadores de organizações assistenciais.

Eles estão fugindo de um país devastado, no qual metade das pessoas sofre fome, a maioria dos hospitais e escolhas fechou ou funciona precariamente e uma epidemia de cólera está em curso e já causou milhares de mortes. Mas o seu destino é um lugar no qual não são bem-vindos e onde terminam hostilizados porque disputam empregos com os moradores locais. No ano passado, os zimbabuanos eram parte da discórdia em uma série de ataques de multidões contra os estrangeiros.

Para as pessoas bem informadas, cruzar a fronteira pode ser simples. Basta pagar uma propina de cada lado. Mas para as pessoas sem dinheiro e sem acesso a informações, a jornada é tão incerta quanto a correnteza do Limpopo e o apetite dos crocodilos. Qual é o melhor ponto para entrar no rio? Onde ficam os cortes nas cercas de arma farpado do outro lado? Por onde patrulham os soldados? Talvez o maior risco sejam os gumagumas ¿trapaceiros, ladrões e estupradores que tomam os mais vulneráveis como presa quando estes se arriscam longe das áreas assentadas.

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