O Fórum Social Mundial manifestou hoje sua solidariedade aos índios da Amazônia, protagonistas do primeiro dia de debates do encontro e que chamaram a atenção para o "desastre" que as indústrias provocarão devastando a floresta.
O primeiro dia de conferências do fórum na cidade de Belém foi dedicado quase integralmente aos problemas do maior pulmão verde do planeta, que, segundo dados de movimentos sociais, perdeu um quinto de sua extensão nos últimos 40 anos.
O que o Fórum Social Mundial batizou como "Dia Pan-Amazônico" começou com uma série de rituais de índios de Brasil, Bolívia, Equador e Peru, que ergueram tótemes na sede do fórum e invocaram a Mãe Natureza em meio a fumaças de incenso e milhares de ativistas.
Blanca Chancosa, representante da Confederação Nacional de Povos Quíchuas do Equador (Ecuarunari), pronunciou um emocionante discurso, no qual clamou pela "vida dos seres humanos, das plantas, dos animais, dos rios e da Mãe Natureza".
Segundo a líder quíchua, "a ciência está voltada para o desenvolvimento de tecnologias a serviço de empresas e esqueceu o ser humano", por isso é necessário "convencer os acadêmicos que o desafio hoje é salvar o planeta".
O fato de a capital do estado do Pará ter sido escolhida para sediar o Fórum Social Mundial conferiu ao evento um acentuado caráter ambientalista, ressaltado ainda mais pela presença de aproximadamente três mil índios de toda a América.
O peruano Miguel Palacin, porta-voz da Coordenadora Andina de Organizações Indígenas, denunciou que "as grandes multinacionais se expandem pelos territórios amazônicos e encurralam os povos autóctones", aos quais pediu que os ativistas se solidarizem.
"Não se trata apenas de salvar a Amazônia e os índios, mas de salvar o próprio planeta", afirmou.
O Greenpeace, que promove no Brasil uma campanha em defesa da Amazônia, se uniu a estas reivindicações e propôs a criação de um fundo internacional que permita que o desmatamento na região seja reduzido a zero até 2015.
No âmbito do fórum, sindicatos brasileiros divulgaram hoje um documento no qual também denunciam as duras condições de vida das 25 milhões de pessoas que vivem na Amazônia.
O texto destaca que a região "é a maior fonte natural do mundo para produtos farmacêuticos e bioquímicos", e que, além disso, possui uma enorme riqueza mineral e concentra cerca de 13% das reservas de água doce do planeta.
No entanto, ressalta que cerca de 70% dos habitantes da região "sofre com o desemprego, a criminalidade e outros graves problemas sociais".
Marco Aurélio Cabral, do Sindicato de Engenheiros de São Paulo, afirmou que "a economia da região está baseada na extração predatória dos recursos naturais e na substituição da mata por áreas de cultivos agrícolas".
O teólogo e ex-frei franciscano Leonardo Boff se uniu aos apelos dos ativistas e alertou: "Se as políticas para a Amazônia não mudarem, a agricultura e a expansão da soja e do gado provocarão uma vasta erosão do solo dentro de 30 ou 40 anos".
Boff, um dos promotores da Teologia da Libertação, disse ainda que, além da Amazônia, é necessário que seja revisado o modelo "consumista-capitalista" que está "enchendo o mundo de lixo".
Segundo o teólogo, "quase 90% de tudo o que se produz e se consome é supérfluo e responde a necessidades criadas pela cultura consumista, que transforma tudo em mercadorias" que depois "acabam no lixo, porque a lógica do sistema obriga que elas sejam substituídas cada vez mais rapidamente".
Depois deste primeiro dia de debates dedicado à Amazônia, o Fórum Social se prepara para receber amanhã o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus colegas de Bolívia, Evo Morales; Equador, Rafael Correa; Paraguai, Fernando Lugo, e Venezuela, Hugo Chávez.
Os cinco chefes de Estado participarão de um debate sobre a América Latina promovido por organizações do fórum. A mesa-redonda acontecerá num centro de convenções com capacidade para 10 mil pessoas.
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