O primeiro dia de Fórum Econômico Mundial, em Davos, foi marcado pelos discursos de dirigentes de duas das maiores economias do mundo - Rússia e China. Em comum, o primeiro-ministro russo Vladimir Putin e o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao pediram que todos assumam suas responsabilidades e cooperem para uma saída para a crise.
Jiabao defendeu a idéia de que os países ricos "assumam suas responsabilidades" e "minimizem" o impacto da crise financeira nas nações em desenvolvimento. O chinês também pediu que os Estados Unidos cooperem com a China para combater a crise, estimando que o "confronto" seria nefasto para os dois países.
"Ao enfrentar a crise financeira internacional, é imperativo que os dois países estreitem sua cooperação, essa é a minha mensagem à administração americana" do presidente Barack Obama, indicou Jiabao em Davos.
O político chinês trouxe medidas concretas de como fará para combater a crise. Jiabao afirmou que seu país irá apostar no consumo interno, investimentos em infra-estrutura e tecnologia e redução de impostos para manter o crescimento em 2009.
Putin, que chegou a dizer que não criticaria os americanos, incluiu em seu discurso que um ano atrás, no mesmo evento, a delegação dos Estados Unidos falava sobre estabilidade e futuro sem problemas.
"Hoje, os bancos de investimento, o orgulho de Wall Street, quase não existem. Nos últimos 12 meses, eles divulgaram prejuízos maiores que os lucros que tiveram nos últimos 25 anos. Este exemplo sozinho reflete a situação real melhor que qualquer crítica", disse o russo.
Embora tenha criticado a posição americana, Putin, assim como Jiabao, disse que espera contar com a ajuda dos EUA para combater a crise.
"Esperamos de todos os nossos parceiros na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos - e, principalmente, da nova administração americana - esforços para fazer avançar a cooperação" no combate à crise econômica e as tensões no mundo, declarou.
Ações coordenadas
O economista-chefe do Banco Mundial, Justin Yifu Lin, disse que "o estímulo fiscal não funcionará se apenas um país o adotar. Devemos ter uma aproximação coordenada, implementada pelas economias industrializadas e pelas emergentes".
"Injeção de capital é necessária, mas não suficiente", disse Heizo Takenaka, diretor do Global Security Research Institute. "O que o mundo precisa é de ações coletivas", afirmou Ferit Sahenk, chairman do Dogus Group. "Os países devem entrar em um consenso para agir", completou Lin.
Ernesto Zedillo Ponce de León, ex-presidente do México, destacou que a intervenção estatal isolada, foi, em geral, "errática e inconsistente" até o momento.
Embora criticada quanto a sua forma, a atuação do Estado na economia foi defendida pelos participantes do evento - algo impensável até um ano atrás. Tradicional fórum de idéias neoliberais, o congresso de Davos este ano é marcado por sugestões de como os governos devem atuar para controlar a crise.
Os participantes destacaram a necessidade de criar um mecanismo para quantificar os ativos tóxicos que os bancos possuem, que os acionistas deveriam aumentar o capital das entidades de crédito e, caso não sejam capazes de fazer isso, o Estado deverá ser o responsável por recapitalizá-los.
O investidor húngaro George Soros afirmou que os Estados Unidos precisam de uma ampla reorganização de seu sistema financeiro, que vai muito além do agrupamento dos títulos podres em uma única instituição, que seria responsável por administrá-los.
"Eles precisam de uma ampla reorganização do sistema de hipotecas e você tem que repensar a liquidez dos bancos", disse Soros. "Isto poderia requerer agora a injeção de cerca de US$ 1,5 trilhão - muito porque eles não fizeram isto durante a organização do TARP (programa de resgate de ativos em problema, que liberou US$ 700 bilhões para a economia, no ano passado).
Até domingo, 40 chefes de Estado, cerca de 15 ministros de Finanças, 20 presidentes de bancos centrais e dezenas de dirigentes empresariais, assim como algumas ONGs - no total, 2,5 mil presentes -, abordarão em Davos formas de buscar soluções à crise econômica.
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