sexta-feira, 19 de junho de 2009

PIB “esconde” destruição da natureza


Na semana passada o IBGE divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 0,8% no primeiro trimestre de 2009, o que é considerado negativo para a economia do país. Porém, aumento do PIB não é necessariamente bom. “Quanto mais acidentes de carro temos, mais se gasta com funilaria; se houver feridos, gasta-se com remédios; se houver mortos, os serviços funerários ganham. Isso tudo leva a um crescimento do PIB”, explica Oded Grajew, ex-presidente do Instituto Ethos e integrante do movimento Nossa São Paulo.

O argumento de Grajew é extremo, mas exemplifica as limitações desse indicador, usado há mais de 60 anos para mensurar o desenvolvimento dos países. O PIB não considera, por exemplo, quais fatores estão levando ao aumento – ou à queda – do indicador. “Quando o navio petroleiro Exxon Valdez naufragou nas costas do Alaska, foi necessário contratar inúmeras empresas para limpar as costas, o que elevou fortemente o PIB da região. Como pode a destruição ambiental aumentar o PIB? Simplesmente porque o PIB calcula o volume de atividades econômicas, e não se são úteis ou nocivas”, exemplifica o economista Ladislau Dowbor, da PUC-SP, no artigo O debate sobre o PIB: estamos fazendo a conta errada.

Outro ponto levantado pelos críticos do índice é o fato de ele não considerar a queima de recursos e a degradação do meio ambiente. “A preservação ambiental é um obstáculo para o PIB. Se desmatar tudo, o PIB vai subir naquele período, mas o recurso vai acabar”, alerta Grajew. Dowbor concorda: “Quando um país explora o seu petróleo, isso é apresentado como eficiência econômica, pois aumenta o PIB. A expressão ‘produtores de petróleo’ é interessante, pois nunca ninguém conseguiu produzir petróleo: é um estoque de bens naturais, e a sua extração, se der lugar a atividades importantes para a humanidade, é positiva, mas sempre devemos levar em conta que estamos reduzindo o estoque de bens naturais que entregaremos aos nossos filhos”.

Novos índices

São Paulo, cidade com o maior PIB do Brasil (de acordo com os últimos dados, de 2006), conhece bem as consequências ambientais do crescimento do índice: “Rios mortos, vias congestionadas e poluição são fruto dessa mentalidade de ‘São Paulo não pode parar’”, afirma Grajew. E defende: “O grande debate é: você quer ser rico ou ser feliz?”. É pensando nesta questão que o movimento Nossa São Paulo, diz Grajew, disponibiliza em seu site, a partir desta segunda-feira (15/06), uma pesquisa sobre que fatores fazem as pessoas felizes. A partir das respostas serão desenvolvidos os Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (IRBEM). Segundo Grajew, a perspectiva é fazer uma segunda pesquisa, especificamente sobre os IRBEM, cujos resultados devem ser divulgados na véspera do aniversário da cidade, em 25 de janeiro de 2010.

Em escala nacional, há outro indicador que procura dimensionar a qualidade do desenvolvimento. É o Índice de Qualidade de Desenvolvimento (IQD), desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Criado em março deste ano, o indicador considera três subíndices: o Índice de Qualidade do Crescimento (que engloba produção, salários, confiança dos empresários e meio ambiente), o Índice de Qualidade da Inserção Externa (que mede a situação do Brasil em relação aos outros países) e o Índice de Qualidade do Bem-Estar (relacionado à pobreza, à mobilidade social, à desigualdade de renda, ao desemprego e à ocupação formal).

O índice do IPEA é mensal e foi calculado para o Brasil desde 2008. A partir do índice foi possível concluir que, do ano passado até agora, houve aumento na ocupação formal e diminuição da desigualdade, fatores que ficam invisíveis quando o indicador é o PIB, diz Roberto Messenberg, economista do IPEA. “Você poderia ter um PIB em que uma pessoa tivesse toda a renda, e o resto não tivesse nada (e não ia fazer diferença)”, argumenta. Ele explica ainda que, no PIB, o nível da exportação vai ser o mesmo se o país exportar produtos básicos ou manufaturados. Já no IQD, cada tipo de exportação é contabilizado de forma diferente.

Não é só no Brasil que economistas, governo e sociedade em geral procuram alternativas para o Produto Interno Bruto. Em fevereiro do ano passado, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, solicitou a 27 especialistas (dentre eles os ganhadores do prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz e Amartya Sen) que estudassem o assunto. O grupo ficou conhecido como Comissão Stiglitz-Sen e deveria emitir um relatório final um ano após sua primeira reunião, em abril de 2008. Um texto provisório sobre as atividades do grupo já está no site da comissão, mas o relatório oficial ainda não foi divulgado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário