quinta-feira, 26 de março de 2009
Guatemala tem vulcão, ruínas e praias em área menor que o Acre
Um vulcão ativo aberto para visitantes, no qual você pode ver a lava incandescente de pertinho. Um sítio arqueológico gigantesco no meio de uma selva tropical. Uma cidade histórica colonial com construções baixinhas e belíssimas. Um lago no alto de uma montanha, rodeado de vilarejos cheios de ateliês e pousadas. Praias do Caribe de um lado e do Pacífico do outro. Todos os cenários ficam num só país, pequeno e improvável: a Guatemala.
Com uma área menor do que a metade do estado de São Paulo e menor do que o Acre, a Guatemala fica entre dois oceanos e duas cordilheiras de montanhas. O relevo acidentado gerou uma variedade enorme de paisagens - e também o cenário perfeito para o desenvolvimento da cultura maia. Cercados de natureza e protegidos de invasores, os maias tiveram na Guatemala o auge de sua civilização, entre 300 e 900 d.C. Eles habitaram uma região mais extensa, que vai do sul do México a Honduras, por um período ainda mais longo (de 2.500 a.C. a 1.000 d.C.), mas foi em Tikal, no norte guatemalteco, que fizeram suas construções mais impressionantes.
Tikal fica a pouco mais de 500 quilômetros da capital do país, Cidade da Guatemala, no meio de uma densa floresta tropical. Você pode ir de carro ou voar até lá. Num parque com 16 quilômetros quadrados, espalham-se mais de 3 mil construções, incluindo templos, palácios com quase 70 metros de altura e pirâmides. Os maias fizeram complicados cálculos astronômicos e tinham um calendário com ano solar de 365 dias e um bissexto de 366 dias. A luz e os ciclos da natureza eram aproveitados nas construções. Imagina-se que os maias tenham abandonado Tikal por conta de uma escassez súbita de alimentos. Mas o sumiço repentino, num período de forte florescimento cultural, permanece um mistério.
A visita a Tikal merece pelo menos dois dias. Você pode se hospedar em hotéis dentro do parque ou aproveitar o luxo do Camino Real, em sistema de resort. O mais importante é reservar uma madrugada para um espetáculo: ver o amanhecer no parque. Do alto do Templo IV, com 64 metros, a imagem das ruínas ao redor com os primeiros raios de sol e do tapete verde a perder-se de vista é extasiante. Macacos, pássaros e bichos da floresta dão a trilha sonora do momento, e você provavelmente cruzará com esses e outros animais no caminho. Até onças pintadas (chamadas jaguares na América espanhola) vivem no parque, mas são tão arredias quanto suas primas brasileiras.
Também os espanhóis deixaram construções históricas fabulosas na Guatemala. Elas se concentram principalmente em Antigua, cidade colada na capital - apenas 45 km - e emoldurada por três imponentes vulcões. Antigua foi fundada para ser a sede da coroa espanhola nas Américas, em 1543, mas uma série de intempéries mudou seu destino: inundações, terremotos e até erupções provocaram várias reconstruções da cidade. Em 1773, ela deixou de ser capital do país (que passou para a Cidade da Guatemala) e parece ter, enfim, conquistado sua tranquilidade. São desse período muitas das construções de Antigua, todas baixas por causa dos tremores, e em estilo colonial. Cafés charmosos, lojas de artesanato, livrarias e ateliês atraem os visitantes. Aproveite o passeio para conhecer a Fazenda Filadelfia, um fabricante de café orgânico nos arredores da cidade, que oferece doces, vinhos e, claro, um café da manhã fabuloso.
Vulcão e lago
Antigua tem uma vida noturna mais agitada que a da capital. Justiça seja feita: a Cidade da Guatemala tem uma atração imperdível, o Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, com relíquias dos povos pré-colombianos, mas, além dele e dos shoppings (Oakland Mall e Fontebella), oferece pouco em comparação à vizinha histórica. Até mesmo os três vulcões visíveis da capital são mais próximos de Antigua - e rendem um passeio dos mais emocionantes. Afinal, onde mais no mundo você pode ficar tão próximo de um rio de lava como no vulcão de Pacaya? O calor chega a esquentar a sola dos sapatos e a fumaça arde nas narinas. Mas ver a terra viva, em cores incandescentes, vale qualquer negócio.
Cenário bem diferente encontra-se em outra atração, a uma hora e meia da capital, o lago Atitlán. Deitado sobre uma região montanhosa, a 1.600 metros de altura, esse imenso reservatório de água doce é cercado de 15 vilarejos singulares. Dá para passear de barco ou de carro, nos arredores. Cada vilarejo exibe artesanato indígena próprio e fabuloso. A mais turística das vilas é Panahajel, onde se pode praticar esportes de aventura e encontrar mochileiros do mundo inteiro. O mais tradicional é o povoado de Santiago de Atitlán, local onde a igreja principal tem santos vestidos com mantas típicas dos índios e a missa é sincrética (para várias religiões).
A vontade de encher as sacolas de compra nos vilarejos de Atitlán é quase irresistível, mas segure-se até chegar a Chichicastenango, ou simplesmente Chichi, a nordeste da capital. Essa cidade a 2 mil metros de altura orgulha-se de abrigar o maior mercado de artesanato indígena do país. Às quintas e aos domingos, mal dá para visitar tudo que os nativos oferecem - de jóias com jade de diferentes cores (verde, preto e até rosa) a tecidos para decoração de texturas variáveis.
Não se esqueça das praias
Com tanta riqueza cultural e histórica, muitos ignoram o litoral guatemalteco, explorando apenas seu rico interior. Mas as praias, sobretudo as do Atlântico, também valem a visita. Colada em Belize, país famoso pelos lugares de mergulho, a costa atlântica da Guatemala tem clima de Caribe. No Rio Dulce, próximo do mar, pousadas em palafitas são o diferencial. As praias Cocolí, Blanca, Punta de Manabique, Bahia de Amatique, Livingston e Punta de Palma têm coqueiros, areia branquinha e mar azul. Já do lado do Pacífico, as praias de areia escura não são tão convidativas (ainda mais para os brasileiros), mas a estrutura dos resorts procura compensar o cenário.
Numa viagem com tempo de sobra, vale a pena buscar tentar puxar conversa nos vilarejos menos explorados pelos viajantes. Os moradores geralmente são avessos a contatos exteriores, mas um guia ou amigo local pode ajudá-lo no contato e na tradução das histórias. Com um passado dos mais antigos de toda a América, a Guatemala procura manter tradições há muito perdidas em outras partes. Quem disse mesmo que os maias desapareceram?
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