O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a condenar nesta quinta-feira a ação de investidores que contribuíram para o estouro da crise financeira mundial e disse, ao participar de reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), que as turbulências nas bolsas de valores e a insolvência da economia de países desenvolvidos acaba com "mais de duas décadas de equívocos e fraudes em nome do 'deus mercado'".
"Por mais injustas que sejam, como de fato são as conseqüências dessa crise para os países em desenvolvimento, ela coloca um ponto final em um ciclo de mais de duas décadas de equívocos e fraudes em nome do 'deus mercado'", criticou Lula na abertura da sessão do CDES.
"A crise atual consolida e consagra uma agenda de desenvolvimento que vinha sendo criticada de forma injusta e agressiva nos últimos anos", lembrou o presidente, rechaçando a tese de que a adoção de medidas protecionistas poderia reerguer algumas economias. "Não podemos passar do vale-tudo financeiro (...) para o vale-tudo protecionista, que certamente nos jogaria em uma crise pior do que aquela que resultou na Segunda Guerra (Mundial)", disse.
"Aqueles que sabiam tudo até essa crise ficaram sem saber nada após essa crise. E o Estado foi chamado para salvar aqueles que até então eram os deuses da verdade e os deuses do mercado", opinou. "Sistema financeiro esteve totalmente dissociado do sistema produtivo das nações", ressaltou o presidente.
Afirmando falar com "uma ponta de orgulho", Lula lembrou que pelo menos desde 2003, início de seu primeiro mandato, na América do Sul e no Brasil houve prioridades em torno de projetos de infra-estrutura e políticas sociais. "Essas balizas conseguiram legitimidades nos últimos escrutínios desde 2003 (...) e nosso desafio é manter o crescimento em meio à turbulência de uma travessia irreversível".
Os desafios neste início de ano, explicou Lula, é retomar bons patamares de crédito, reestruturar o papel de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a ONU (Organização das Nações Unidas), e atualizar as agendas de debate do G20 e da OMC (Organização Mundial do Comércio), por exemplo. "Chegou a hora da verdade e da política. Não tem contemporização", declarou.
"A saída para essa crise que estamos vivendo só acontecerá se os governantes do mundo assumirem o papel de governantes de seus países. Houve, durante duas décadas, quase que uma apatia, porque as pessoas eram eleitas sob a égide de que o Estado não valia nada, de que tudo seria resolvido pelo mercado e que o papel do governo era enxugar o Estado, diminuí-lo ao máximo possível, porque o Estado atrapalhava o desenvolvimento da economia", ressaltou Lula.
"Posso ser exagerado, mas essa crise é a oportunidade de os governantes voltarem a governar e de o Estado voltar a coordenar os interesses da sociedade que nós governamos", disse o presidente aos conselheiros do CDES.
Ao lembrar que o órgão consultivo da presidência completava sua 29ª reunião do pleno, o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, destacou, na abertura do encontro, que os conselheiros, nos últimos debates, têm se empenhado na discussão de propostas que ajudem o Brasil a enfrentar a crise financeira mundial.
"(O CDES) vem se dedicando ao tema da crise financeira desde ao ano passado, buscando variáveis e discutindo propostas. O tempo de verdades absolutas e impostas a qualquer país e a toda a qualquer sociedade terminou. Caberá às lideranças sociais, políticas, intelectuais e institucionais construir (...) um futuro de acordo com as aspirações do conjunto da sociedade brasileira", comentou o coordenador político do governo.
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