segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Sem espaço, cidades enterram mortos em ruas e praças


Por falta de espaço, os mortos são enterrados nas ruas, corredores, praças e áreas verdes dos cemitérios de três cidades do interior de São Paulo. Essas áreas, que deveriam servir de passagens para pedestres, tráfego de funerais e descanso para os visitantes, dão lugar às covas, abertas pelas prefeituras no desespero de encontrar locais para sepultar seus mortos.

Em Araçatuba (540 km de São Paulo), os dois cemitérios da cidade de 180 mil habitantes estão superlotados. No Recanto da Paz, os mortos são sepultados no meio da última rua, que serviria para trânsito de veículos. ''Aqui, a única área livre para fazer novas covas é esta mesmo'', diz o coveiro Ataíde Jacinto, 60 anos, há 27 trabalhando no cemitério.

Inaugurado em 1972, o cemitério tem 35 mil sepulturas. As ruas começaram a ser ocupadas no mês passado, depois que terrenos destinados à arborização e para a construção de uma praça foram ocupados pelos túmulos. No terreno que seria a praça, por exemplo, há 48 sepulturas. Até agora, 15 mortos, a maioria indigentes, foram enterrados na rua. Por semana, o cemitério recebe de seis a dez mortos cujas famílias não têm terreno ou jazigo no cemitério.

De acordo com Carlos Pereira, responsável pelos cemitérios, a capacidade só não se esgotou porque a maioria dos defuntos é de familiares que já possuem jazigos no Recanto da Paz ou no cemitério da Saudade. Nestes lugares, os enterros para quem não tem os jazigos são feitos somente depois que alguns túmulos são desativados por falta de pagamento de manutenção das famílias.

''Isso aqui é um horror, um desrespeito à pessoa humana'', diz a aposentada Rosa Ramancini da Silva, 66 anos, que foi limpar a sepultura do marido. ''Ainda bem que o túmulo do meu marido fica perto da entrada. Eu jamais deixaria que eles o enterrassem em uma rua. É falta de respeito'', diz.

''Acho que eles precisam inaugurar logo um novo cemitério, porque este aqui já está muito cheio'', diz a dona-de-casa Francelina Gonçalves Liberal, que, junto com o afilhado, Romilson Corrêa de Souza, capina e limpa a cova do marido.

O novo cemitério já tem área, mas sua construção ainda não saiu do papel. No entanto, Pereira adverte: ''Daqui a pouco não teremos mais lugar para colocar os nossos mortos''.

Proibido morrer
Em Biritiba-Mirim (72 km de São Paulo), cidade com 29 mil habitantes, os mortos são enterrados nos corredores existentes entre os túmulos e nas ruas internas do único cemitério do município. Mais de 80 covas foram abertas nas ruas e nos corredores entre os túmulos. ''Fazer o quê? Não temos mais lugar'', diz o coveiro Benedito Ribeiro Silva.

Segundo a prefeitura, isso continuará acontecendo até que o novo cemitério seja inaugurado, possivelmente em meados de março ou começo de abril.

A cidade ficou conhecida em 2005 quando o então prefeito Roberto Pereira da Silva (PTB), o Jacaré, baixou decreto proibindo os moradores de morrer. A medida foi um protesto do prefeito contra a falta de cemitério na cidade.

Exumações
Em Andradina (640 km de São Paulo), município com 56 mil habitantes, a prefeitura está exumando corpos enterrados há mais de três anos para dar lugar a novos defuntos no único cemitério da cidade.

A medida foi tomada em janeiro, depois que, por falta de espaço, a prefeitura usou uma área de despejo de resíduos e uma rua para enterrar seus mortos.

''Suspendemos a utilização dessas áreas e decidimos exumar corpos de famílias que não pagaram os jazigos. Nossa Lei Orgânica nos faculta isso'', explica o assessor jurídico da prefeitura, Edílson Gomes da Silva.

De acordo com Gomes da Silva, 15 corpos já foram exumados para dar lugar a novos defuntos. ''Os novos espaços são destinados às famílias que não têm jazigo ou terreno no cemitério da cidade, o que é uma minoria'', diz Silva.

Segundo ele, a prefeitura vai propor à população de 60 mil habitantes a construção de um novo cemitério. ''Essa obra se tornou imprescindível. A cidade cresceu e os espaços para os mortos diminuíram'', afirmou.

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