segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Brasileiros na Suíça esperam desculpas do País aos suíços

Mesmo que divididos entre condenar a possível farsa armada pela advogada brasileira Paula Oliveira nos arredores de Zurique, demonstrar solidariedade com a moça ou continuar acreditando na versão dela, os brasileiros que moram na Suíça têm dois pontos em comum: as certezas de que o "caso Paula" não potencializará o preconceito contra os estrangeiros no país e que o Brasil deve um pedido de desculpas aos suíços.

A impressão geral dos brasileiros ouvidos pelo Terra é a de que, desde o princípio, os suíços confiaram na própria polícia. Uma vez que as provas de que a história poderia não passar de uma armação - a principal delas sendo um exame negando que Paula tivesse sofrido um aborto naquela segunda-feira -, os suíços saíram da defensiva e agora esperam, pelo menos, um pedido de desculpas por terem sido alvo de ataques tanto da imprensa do Brasil, quanto do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"O mínimo que poderia acontecer, depois de toda essa confusão, seria o presidente se desculpar formalmente", diz o gestor de recursos Leandro, 30 anos. O brasileiro mora há 14 anos na Europa e há dois em Zurique, onde vive com a esposa alemã. Ele afirma que os seus diversos amigos suíços foram cautelosos ao comentar o caso, e só deram opiniões na medida em que as investigações policiais começaram a vir a público.

"Os suíços são extremamente objetivos, e quando essa história estourou, todo mundo ficou surpreso, porque a violência não faz parte da personalidade deles. Agora, com essa reviravolta, eles estão falando um pouco mais grosso. Mas, ainda assim, eles têm dó da menina", completou.

Conforme Leandro, a brasileira contaria com a compaixão até mesmo do presidente do partido de extrema-direita SVP - cujas iniciais foram gravadas nas pernas e na barriga de Paula, durante a suposta agressão. "Para a mídia, ele disse que, levando em conta a gravidade do estado mental dela, não merece ser deportada, se a farsa for mesmo comprovada. Acho que toda a história não vai mudar em nada em relação ao tratamento que os brasileiros recebem aqui."

O temor de que a confusão aumente o preconceito contra os brasileiros parece não existir. "É claro que estamos todos morrendo de vergonha, mas não acho que essa história vá aumentar mais o preconceito que já existia", afirma a bancária Gisele, 32 anos e moradora de Dübendorf, a mesma cidade onde Paula diz ter sido atacada por três neonazistas.

"Os suíços foram muito discretos desde o princípio, ninguém veio com piadinhas ou agressões verbais, muito pelo contrário: eles têm demonstrado solidariedade com estado mental dela, embora estejam insatisfeitos sobre como a história foi administrada pelo Brasil."

Gisele confessou que até torce para que a história de Paula tenha sido inventada. Casada com um suíço e mãe de um bebê de três meses, ela ficou com medo de sair sozinha nas ruas depois do suposto ataque, uma vez que freqüenta diariamente a mesma estação de metrô onde a advogada alega ter sido agredida.

"Eu tinha ficado apavorada com a idéia de uns malucos nazistas como esses morarem perto da minha casa. Acho que se ela inventou tudo realmente, deve pagar por isso. Mas ainda não tem nada provado."

Já a estudante Tatiana, 30 anos, é solidária com a compatriota e acha que a advogada deveria se submeter a um tratamento psiquiátrico, se for confirmada a mentira. "Com certeza a imagem do Brasil aqui vai ser denegrida, pelo menos por um tempo. Fico preocupada porque as brasileiras já têm uma imagem péssima: ou de prostitutas, ou de caçadoras de maridos suíços", conta.

"Mas acho que depois de um tempo, todo mundo vai esquecer e tudo vai voltar ao normal. Vai ficar na memória das pessoas como 'aquele caso de auto-mutilação', e não como 'os brasileiros são todos uns loucos'".

Tatiana conta, no entanto, que na última sexta-feira participou de uma festa onde havia vários brasileiros e que a piedade em relação a Paula era a exceção. "Tem muita gente indignada com todo esse papelão. Mas tudo vai ficar bem, tenho certeza."

A dona-de-casa Eliane, 49 anos, é outra cujas amigas brasileiras estão inconformadas com a possibilidade de a história ter sido inventada. "Várias estão querendo crucificá-la, mas eu a vejo como uma pessoa doente e que precisa de tratamento."

Na opinião da dela, porém, as autoridades suíças não a pouparão das conseqüências dos seus atos. "Este caso é um perfeito exemplo para demonstrar o quanto brasileiros agem com o coração e os europeus, com a razão. O que mais chocou os suíços não foi nem o caso em si, mas sim a repercussão desproporcional e precipitada na imprensa brasileira e a reação do nosso próprio governo. Está mais do que na hora de a Suíça receber pedidos de desculpas, porque desde o início todo o erro foi nosso."

Para Eliane, o caso vai prejudicar a imagem dos estrangeiros em geral, e não apenas dos brasileiros. Casada com um suíço e mãe de uma menina de dez anos - a família mora em Zurique há 11 anos -, ela espera que a toda a confusão sirva de exemplo para a imprensa do Brasil.

"Aqui, ninguém publica nada enquanto não tem provas, enquanto a polícia não confirma. Emotivos, os brasileiros chegaram até a pensar que no início a imprensa suíça estava querendo encobrir o caso, quando na verdade eles só esperavam que as investigações chegassem a alguma conclusão, antes de divulgar informações precipitadas."

Embora estejam otimistas em relação ao desfecho dos fatos, todos os brasileiros que participaram desta reportagem preferiram não ter os nomes completos divulgados.

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