Códigos que não podem ser quebrados sem revelar quem são os hackers podem estar no horizonte, graças a uma equipe de físicos austríacos que enviaram pares de fótons emaranhados a uma distância de aproximadamente 143 km.
Fótons emaranhados são pares de partículas comuns de luz que estão misteriosamente conectados em nível quântico. Em cada par, um fóton parece "saber" o que ocorreu com o outro independente da distância que os separa. Albert Einstein uma vez se referiu a este efeito como "assustadora ação à distância".
Criptógrafos acreditam que esta propriedade torna os fótons emaranhados ideais para o envio de mensagens secretas. Embora esse método não evite a interceptação de uma mensagem, ele consegue revelar um "espião" instantaneamente por meio da ação dos pares de fótons emaranhados.
"Você saberá imediatamente que houve alguém na linha", disse Anton Zeilinger, membro da equipe de pesquisadores da Universidade de Viena.
Encontrando os fótons
Transmitir fótons a longas distâncias é difícil, pois o feixe de luz perde intensidade rapidamente, como a luz de uma lanterna. Isso torna os fótons emaranhados mais difíceis de serem detectados quanto maior o trajeto percorrido.
"Perdemos muitos fótons devido à dispersão na atmosfera e à absorção", afirmou Zeilinger. "Somente cerca de 1 em 10 milhões chega ao outro lado."
Produzir detectores que possam "encontrar" os fótons chave em meio à luz de fundo é, portanto, uma parte crucial do experimento.
Anteriormente, a equipe havia conseguido detectar membros isolados de pares emaranhados enviados a uma distância de 144 km. Para sua pesquisa, publicada recentemente no periódico especializado Nature Physics, Zeilinger e seus colegas tornaram seus detectores suficientemente sensíveis para enviar ambos os membros de um par e encontrá-los juntos em uma localização definida.
O próximo passo seria enviar cada um dos fótons emaranhados para um receptor diferente, abrindo a primeira porta para fontes distantes enviarem mensagens codificadas entre si por meio de uma conexão de satélite.
Segurança na internet e 'ação assustadora'
O premiado escritor de ficção científica e futurista Robert J. Sawyer acredita que o maior beneficiário das mensagens quânticas no curto prazo será o comércio eletrônico, para o qual as transmissões cifradas de informação são vitais na prevenção de roubos. Contudo, a expansão da transmissão de mensagens codificadas pelo planeta está apenas começando.
"Em teoria, partículas emaranhadas permanecerão ligadas entre si a despeito da distância que as separam," diz Sawyer. Por essa razão, elas poderão ser, um dia, utilizadas para a comunicação interestelar.
Carl Frederick, físico e escritor de ficção científica de Ithaca, no estado norte-americano de Nova York, é cético acerca da possibilidade de partículas emaranhadas serem usadas algum dia para a transmissão de mensagens "reais". Isso porque as mudanças nos fótons interligados se parecem mais com o resultado de um jogo de cara ou coroa. Os lançamentos podem ser os mesmos em ambos os lados, mas o resultado é basicamente aleatório.
"Se você jogar uma moeda para cima, você não tem nenhum controle sobre o resultado, logo, você não pode utilizar isso como uma mensagem voluntária do tipo 'me encontre ao meio-dia'", afirma Frederick.
O escritor de ficção científica Jerry Oltion de Eugene, no Estado do Oregon, discorda.
"Você simplesmente precisa estabelecer um código à frente do tempo", defendeu ele por e-mail. "Se eu alterar o fluxo de fótons para um décimo de segundo, trata-se de um ponto. Dois décimos de segundo, será um traço. Com esse padrão pré-estabelecido, você pode enviar mensagens em código Morse. Um pouco mais de sofisticação permitiria o envio de mensagens de texto - um grau ainda maior de complexidade possibilitaria que enviássemos voz, ou até mesmo vídeos", acrescentou Oltion.
"Com a codificação correta, não vejo razão para que mensagens complexas em tempo real não possam ser enviadas por meio dessa 'assustadora ação à distância'".
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