sexta-feira, 22 de maio de 2009
Japão adota "emprego vitalício" e cria empresas zumbi
Quando os pedidos de chapas metálicas caíram à metade em sua pequena empresa, a High Metal, em outubro do ano passado, jamais ocorreu a Massaki Taruki demitir seus funcionários. Em lugar disso, ele passou a dedicar seu tempo a criar projetos que pudessem ocupar o tempo de seu pessoal. Uma horta no interior da fábrica? Uma oficina de artesanato?
Devido a subsídios governamentais, Taruki nos três últimos meses plantou uma horta no espaço deixado vazio pela venda de máquinas que a empresa não estava utilizando. Os funcionários cuidam carinhosamente dos brotos, regando-os, acrescentando fertilizante e ajustando as luzes fluorescentes.
Quando as vendas da Shinano Kogo, uma fábrica de máquinas no centro do Japão, caíram em 70%, no final do ano passado, a empresa começou a usar seus trabalhadores ociosos em funções como varrer as ruas e recolher o lixo da cidade, sem demiti-los.
De acordo com estatísticas divulgadas na quarta-feira, a economia japonesa sofreu sua pior contração desde 1955, no primeiro trimestre, com um recuo de 15,2% em base anualizada. Mas proporção muito menor de funcionários perdeu o emprego no Japão, ante os níveis registrados nos Estados Unidos ou na União Européia. (O índice de desemprego japonês em abril era de 4,8%, ante 8,9% nos Estados Unidos e na Europa.)
Os analistas dizem que isso acontece porque o conceito de emprego vitalício continua firme no Japão, e o Estado desempenha forte papel para que a situação não mude.
"O tempo de emprego no Japão continua a ser notavelmente longo", disse Peter Matanle, especialista em questões trabalhistas japonesas na Universidade de Sheffield, Reino Unido. "As empresas primeiro cortam outras despesas. Cancelam os contratos de trabalhadores temporários, reduzem as horas extras, reduzem as bonificações. Pressionam os fornecedores. Fazem qualquer coisa antes de considerar um corte de seu quadro fixo de empregados".
Mas a obsessão do Japão com manter o emprego dos trabalhadores - mesmo aqueles que se tenham tornado desnecessários - tem seu custo.
As empresas reduzem salários, o que gera queda de consumo. As empresas relutam mais em fazer novas contratações, o que exclui os jovens da força de trabalho. E a produtividade despenca, o que prejudica a competitividade japonesa em um mercado internacional cada vez mais agressivo.
"Ao ajudar a manter o emprego excessivo, surge o risco de promover a sobrevivência de companhias que deixaram de ser competitivas e cuja era de produtividade talvez já esteja encerrada", diz Hisashi Yamada, economista no Instituto de Pesquisa do Japão, uma organização privada de pesquisa em Tóquio. "Isso poderia prejudicar o emprego, em longo prazo. O necessário é mais mudança estrutural".
O sistema de emprego vitalício, cimentado durante o boom econômico japonês do pós-guerra, unia trabalhadores devotados e empregadores paternalistas, gerando uma lealdade mútua (e harmonia no trabalho) raramente vista no Ocidente.
Por lei, os empregadores podem reduzir as jornadas de trabalho de seus funcionários, mas precisam continuar pagando pelo menos 60% de seus salários quando o fazem. O governo reservou 60 bilhões de ienes (US$ 624 milhões) este ano para reembolsar empresas por metade do valor desses pagamentos. Em março, cerca de 48 mil companhias solicitaram subsídios referentes a 2,38 milhões de trabalhadores, de acordo com dados do governo.
Até mesmo grandes exportadores, como a Nissan Motor ou a NEC Electronics, utilizaram os subsídios a fim de manter os trabalhadores empregados a despeito de cortes nas jornadas de trabalho.
Em uma recente pesquisa do diário econômico Nikkei, nenhum proprietário de grande empresa reportou planos de demitir trabalhadores permanentes, ante 39% dos empresários entrevistados na Coréia do Sul. Os especialistas afirmam que, sem os subsídios, o desemprego no Japão poderia ser até 2% mais alto.
Porque demitir trabalhadores japoneses é difícil, as empresas recorrem aos temporários, que recebem salários e benefícios menores e podem ser cortados com mais facilidade. Hoje, eles respondem por um terço da força de trabalho japonesa.
Mas manter ocupados todos os funcionários permanentes é outro desafio.
A fábrica de Taruki em Osaka vem se concentrando na horta. Com mais um subsídio do governo, Taruki também investiu cerca de cinco milhões de ienes para criar uma oficina de artesanato, com uma máquina de gravura a laser instalada em uma salinha que antes abrigava os armários dos funcionários. Um funcionário estava lá praticando gravura a laser em produtos de laca, vidro e outros materiais.
A empresa deseja produzir chaveiros e outros produtos baratos, e está estudando maneiras de produzir ornamentos para altares budistas.
"Mesmo que a economia comece a se recuperar, duvido que a vejamos se recobrar de todo", afirma Taruki, cujo avô criou a fábrica da família em Osaka, décadas atrás. "Por isso tenho de começar a compensar o que perdemos. É responsabilidade da empresa proteger os empregos, e aumentar seu número".
Mas alguns analistas se preocupam com a possibilidade de que a recessão japonesa se agrave a ponto de forçar as empresas do país a começar a cortar funcionários regulares.
Os líderes trabalhistas dizem que vem crescendo o número de casos em que funcionários se vêem sujeitos a cortes de salário, jornada de trabalho ou demoções tão humilhantes que terminam forçados a pedir demissão.
Alguns analistas afirmam que é exatamente de um olhar frio como esse às suas inchadas folhas de pagamento que o Japão necessita.
"As empresas mal demitiram funcionários fixos, até agora na crise", diz Carl Weinberg, que dirige a High Frequency Economics, uma consultoria de economia, em nota aos seus clientes, este mês. "Demissões pesadas estão iminentes, mas não acontecerão em tempo hábil".
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