A demanda por crédito oficial para a próxima safra de grãos do Brasil (2009/10) foi estimada em R$ 78 bilhões pela presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que se reuniu nesta segunda-feira com presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela disse que esse foi o montante reivindicado a Lula para ser incluído no Plano Safra, lançado tradicionalmente no meio do ano.
Caso o governo atenda o pedido da CNA, o crédito agrícola oficial subiria 20% em relação aos R$ 65 bilhões anunciados no ano passado para a chamada agricultura comercial em 2008/09.
Se incluída a pecuária neste cálculo da CNA, complementou Kátia, a necessidade de financiamentos totalizaria R$ 155 bilhões.
"A necessidade de colocarmos para o presidente esse valor total é justamente para que seja analisada a dificuldade que enfrentaremos num futuro bem próximo, na safra 2009/2010, com o recuo do financiamento internacional", disse ela.
A presidente da CNA disse ainda que o crédito oferecido pelas tradings poderia diminuir pela metade devido à crise financeira global, o que aumentaria a necessidade de recursos oficiais.
A senadora, que é cotada para se candidatar a vice-presidente pela oposição em 2010, alegou que o setor rural ainda não foi atendido totalmente pelas medidas do governo anunciadas para combater os efeitos da crise financeira global.
Segundo ela, as ações para o segmento só somaram R$ 14,8 bilhões dos R$ 385 bilhões dos pacotes lançados até agora pelo Executivo.
"Como representamos um terço do emprego, um terço do PIB e um terço das exportações, nós também precisamos do necessário", afirmou.
Após se encontrar com Lula, a senadora afirmou que entregará ao governo até abril uma proposta sobre um novo marco para os financiamentos do setor.
O projeto, elaborado em conjunto pela CNA com os ministérios da Fazenda, Agricultura e o Banco do Brasil, sugerirá que o novo modelo seja um misto de apoio governamental em crédito subsidiado e ajuda no frete e mecanismos de mercado, como opções de compra e venda.
Assim, acredita Kátia, em uma ou duas safras os produtores rurais não precisarão mais refinanciar suas dívidas.
"Estamos com um crédito rural obsoleto, um formato que não é mais adequado para a situação atual, que vem se arrastando há 20 anos e se resume ao Plano Safra e ao empurra-empurra das dívidas rurais", disse a senadora.
"Infelizmente, a agricultura brasileira chegou a um patamar de risco elevadíssimo justamente por causa das rolagens", acrescentou. "A cada ano rolado para a última parcela do financiamento, cresce o estoque da dívida em torno de 25% por produtor rural."
A presidente da CNA propôs ao presidente que a Embrapa e acadêmicos arbitrem a discussão entre ruralistas e ambientalistas sobre o Código Florestal.
Kátia reconheceu a necessidade de se adotar uma política de desmatamento zero em contrapartida à consolidação das áreas de produção e destacou a necessidade de se proteger as nascentes de água.
Ela defendeu, entretanto, que se crie um fundo internacional financiado pelos países e empresas poluidores para compensar eventuais perdas dos produtores. "Um bem coletivo não pode ter um ônus individual", alegou.
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